Desafio Eletrocardiográfico
TAQUICARDIA RÁPIDA, qual o diagnóstico?
Autores: Cristiano Dietrich / Muhieddine Chokr
Paciente de 29 anos, sexo masculino, procura o Pronto Socorro por queixa de palpitações aceleradas com início súbito há 1 hora. O sintoma teve início durante corrida na esteira, sendo associada a pré-síncope. Não utilizada nenhuma medicação. História prévia para correção cirúrgica de “problema no coração”. Ao exame físico, consciente, sem déficits motores, boa perfusão periférica, PA 105/66mmHg, taquicárdico, AC ritmo regular em 2 tempos e AP c/ MV bem distribuídos sem estertores. Realizado imediatamente o seguinte ECG:

Resposta: C
Frente ao quadro clínico, o paciente apresenta início súbito de palpitações aceleradas associada a história de doença cardíaca prévia (no atendimento emergencial, não sabia descrever a doença, que foi descoberta posteriormente – atriosseptoplastia para correção de CIA tipo ostium secundum). Em relação a estas informações, a diferenciação de taquicardia regular com complexo QRS alargado (padrão de BRD) é entre uma origem supraventricular (atrial, mais provavelmente) e a ventricular.
O ECG demonstra uma taquicardia regular com complexo QRS alargado e padrão de BRD. A análise do ECG pode sugerir o diagnóstico utilizando-se os critérios de Brugada e Verekei. A figura 2 demonstra alguns critérios que sugerem o diagnóstico de taquicardia supraventricular. Entretanto, pacientes com cardiopatia congênita podem haver dificuldade no diagnóstico utilizando-se estes critérios ECG. Uma opção para esclarecimento de ritmos duvidosos é a inserção de eletrodo esofágico para registro da atividade atrial esquerda próxima ao esôfago. Esta manobra pode auxiliar em casos bem tolerados do ponto de vista hemodinâmica, como informação complementar diagnóstica (figura 3).
Figura 2: critérios de Brugada e Verekei para diferenciação de taquicardias, sugerindo origem supraventricular.
Figura 3. Eletrodo esofágico demonstrando taquicardia com relação A:V 1:1 (a).
O diagnóstico final foi um flutter atrial direito com condução atrioventricular 1:1 na chegada ao PS, evoluindo com FC 2:1 após administração de beta-bloqueador (fig 4a). A reversão foi então realizada pela cardioversão elétrica (fig 4b), excluindo-se a presença de trombo atrial pelo ecocardiograma transesofágico.
Figura 4: Flutter atrial com condução AV 2:1 (a) e ritmo sinusal com padrão de BRD (b) idêntico ao registrado durante a taquiarritmia.