Desafio Eletrocardiográfico
Palpitações, qual o motivo?
Autores: Muhieddine Chokr / Cristiano Dietrich
Paciente de 25 anos procura o pronto-socorro por início súbito de palpitações aceleradas. Sem histórico de comorbidades ou tratamentos. Exames cardiológicos recentes, realizados para prática de esportes, estão dentro da normalidade (ecocardio AE 35 VE 32/48 FE 64% SIV 9 PP 9). Exame físico demonstra PA 122x70mmHg, FC 160bpm, AC ritmo regular 2 tempos, boa perfusão periférica e pulsos arteriais palpáveis. O eletrocardiograma realizado é apresentado na figura 1.

Resposta E
Discussão:
O principal diagnóstico diferencial recai na taquicardia supraventricular com aberrância e taquicardia ventricular (TV). A ausência de doença estrutural pode sugerir uma arritmia supraventricular como primeira hipótese. Entretanto, a análise cuidadosa do ECG é peça-chave na correta elucidação.
Alguns dados na análise do ECG podem ajudar. Os batimentos de fusão ou captura confirmam o diagnóstico de TV. Outros achados também colaboram: 1) padrão qR em V1 e rS em V6 (r/s<1).
Figura 2: Substrato de taquicardia fascicular.
Na presença de um traçado de taquicardia ventricular com padrão de BRD associado a BDAS, deve-se levar a suspeita de taquicardia fascicular. O mecanismo desta arritmia é a reentrada utilizando o fascículo póstero-inferior do ramo esquerdo, e um feixe muscular próximo ao fascículo (figura 2). Uma característica é a reversão e controle da arritmia com utilização de verapamil, e por isto, classificada como taquicardia ventricular sensível a verapamil. Nestes casos, a ablação da “banda˜ muscular ou fascículo é altamente efetiva para o controle da arritmia, com taxa de sucesso > 95% (figura 3).
Figura 3. Registro ECG e eletrogramas durante estudo eletrofisiológico para ablação de TV fascicular com registro dos potenciais alvo para ablação: P1=potencial do fascículo póstero-inferior; P2=potencial diastólico (registro da banda muscular).
4 commented on “Palpitações, qual o motivo?”
Realmente uma taquiventricular fascicular com padrão fascicular postero-inferior que alias é o padrão mais comum deste tipo de taquicardia e o tratamento é verapamil.
Numa sala de Emergência, frente a um diagnóstico de TV com estabilidade hemodinâmica, devemos dar Amiodarona, ou realizar uma cardioversão elétrica. Posteriormente a arritmia deve ser melhor analisada. Essa conduta evita erros graves no corre-corre.
Bom.
É um modo prático de reciclagem.
Excelente caso! Ótimo para relembrar dessa condição e dar o tratamento adequado.